A pluralidade da sexualidade humana e o respeito que se deve ter com todas as manifestações pessoais nesse sentido foi tema do encontro realizado por Brasil Salomão e Matthes, que reuniu colaboradores de forma presencial na matriz do escritório, em Ribeirão Preto (SP) e de outras unidades do país e de Portugal, por transmissão on-line simultânea.
O evento, realizado no Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ (28), fez parte da agenda do escritório para o Mês da Diversidade, e contou com participação da poeta e atriz Alma Aiye Dun e do médico Robson Miranda Costa. O foco da conversa foi estimular reflexões sobre identidade de gênero, orientação sexual e combate à discriminação. “Quando falamos de orgulho, devemos falar por inteiro porque, em muitos casos, o preconceito que temos nos impede de conhecer as pessoas por inteiro. No ambiente de trabalho, por exemplo, é um espaço onde convivemos e conhecemos nossos colegas mais que nossos familiares”, iniciou a psicóloga Lívia Toledo, uma das mediadoras da atividade junto com Beatriz Paccini, sócia advogada de Brasil Salomão e Matthes.
A subjetividade que cerca o olhar e a compreensão para com a população LGBTQIAPN+ foi colocada na roda por Beatriz Paccini. Segundo a advogada, mesmo que uma pessoa se sinta dentro de uma determinada “letra”, ela não será apenas isso. “Não é correto concluir que, por a pessoa ser membro dessa comunidade, isso a define por inteiro. Somos seres complexos e múltiplos”, salientou Beatriz. “Quando a questão é limitada ao gênero, é mais para as pessoas não verem a nossa subjetividade”, completou Alma.
A poeta e atriz falou sobre sua infância no interior do Mato Grosso e sobre seu processo de identificação como uma mulher transexual. “Em mim, a sexualidade sempre foi fluindo naturalmente e sempre me identifiquei como mulher. Mas só quando tive contato com referências trans, tive respostas para perguntas que eu não sabia. No meu caso, não foi tão difícil passar por este processo, porque tive uma base muito boa e meus pais sempre me apoiaram. Sou muito privilegiada”, disse a artista.
Alma Aiye revelou ainda que, foi na arte que encontrou seu sustento, já que, em muitos casos, pessoas trans são marginalizadas em outros mercados de trabalho. “A arte é o primeiro contato que oferece uma arma potente a pessoas trans. Uma arma ancestral, uma fonte de conhecimento a respeito de si próprio, um lugar onde se encontra acessibilidade e onde se pode trabalhar e viver disso”, pontuou.
A atriz também abordou a questão do fetiche que envolve a comunidade trans e a violência contra pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. “Geralmente, associam gays e trans à falta de um pai, de um homem que teria um pulso firme. É um fetiche por querer nos ‘curar’, como se tivéssemos uma doença. E precisamos mudar isso”, arrematou Alma.
Dinâmica de gêneros
Em sua participação, o médico Roberto Miranda Costa propôs uma dinâmica diferente, com a troca de papéis entre os participantes. Logo no início, a equipe recebeu envelopes amarelos, contendo cartões de cores diferentes. Um deles – azul ou rosa -, fazendo referência ao sexo biológico, prescrito pelo médico ao nascer (homem ou mulher). Outro – vermelho, amarelo ou laranja – referindo-se à orientação sexual (heterossexual, homossexual, bissexual). “Já tentamos estudar e compreender a sexualidade humana de diversas formas e a medicina identificava como doença qualquer representação sexual que fosse diferente do padrão binário. Hoje, isso mudou e a homossexualidade e transexualidade foram excluídas do rol de doenças pela Organização Mundial da Saúde”, explicou Costa.